domingo, 1 de novembro de 2009

A Ilha de Páscoa quer se proteger dos imigrantes e dos turistas

Christine Legrand
Em Buenos Aires (Argentina)

Os 5 mil habitantes da Ilha de Páscoa não gostam dos turistas. Ou gostam somente em pequenas doses. Nesse território chileno isolado do mundo, a 4 mil km de Santiago, cerca de 1.300 eleitores (mais de 96% do total) aprovaram, em 24 de outubro, uma reforma da Constituição que deverá dar às autoridades da ilha do Pacífico um controle maior sobre seus fluxos migratórios.

O referendo popular, organizado pelo governo de Santiago, respondia às preocupações dos habitantes, de origem polinésia, em sua maioria. Os autóctones denunciam o impacto negativo do turismo e da imigração sobre sua cultura, o patrimônio e o ecossistema da ilha, um pequeno paraíso de somente 164 km2. Em agosto eles bloquearam, durante 48 horas, o único aeroporto, para reivindicar limites para a duração da permanência dos turistas e para a imigração crescente de chilenos vindos do continente.


Moai com um pedaço inferior da orelha direita faltando, na Ilha de Páscoa


A Ilha de Páscoa, descoberta em 1722 pelos holandeses, exerce uma fascinação sobre os viajantes do mundo inteiro. Todos os anos, 50 mil turistas visitam suas praias, suas paisagens vulcânicas e suas centenas de Moais. A construção dessas imponentes estátuas de pedra, que pesam toneladas e medem até 20 metros de altura, continua sendo um mistério. Alguns habitantes chegam a falar em participação de extraterrestres...

Após negociações com as autoridades da ilha, o governo chileno havia instaurado, em setembro, um sistema de formulários de migração para "melhorar a informação sobre os visitantes", segundo o vice-ministro chileno do Interior, Patrício Rosende. Os turistas deveriam detalhar o motivo, a duração e seu local de hospedagem em um "formulário especial de visitante", que teriam que preencher ao desembarcarem no aeroporto de Santiago, o único a atender Rapa Nui, nome polinésio da Ilha de Páscoa. A Suprema Corte julgou essa medida "ilegal e arbitrária", e os juízes invocaram o direito à livre circulação sobre o território chileno como um todo. "É preciso controlar o crescimento da Ilha de Páscoa", admite Rosende. "É um território muito frágil que não suporta fluxos indeterminados de imigrantes que ali se instalam." Os habitantes da Ilha de Páscoa acusam os chilenos do continente instalados na pacífica ilhota, de causarem uma criminalidade nunca vista até então. E eles os criticam, assim como os turistas, por colocarem em risco o equilíbrio ecológico da ilha, que é patrimônio mundial da Unesco.

Tradução: Lana Lim