sábado, 22 de agosto de 2009

Brasileiro que escreveu sobre coronel Fawcett quer processar autor americano

Reprodução


O então major Percy Harrison Fawcett no Peru, em foto de 1911









Por Ivan Finotti
da Folha de S.Paulo

Dois livros com duas visões diferentes sobre a vida e a morte de Percy Fawcett têm jogado luz sobre a trajetória desse fascinante coronel britânico que desapareceu em 1925, na região do Xingu, enquanto procurava vestígios de uma civilização extinta.

Fawcett é lembrado como maior inspiração para o personagem Indiana Jones.

O problema é que um desses dois autores --o brasileiro Hermes Leal-- não considera a visão do outro autor --o norte-americano David Grann-- tão diferente assim da sua.

Na verdade, acusa Grann de copiar seu livro e ameaça levá-lo à Justiça. "É sacanagem vir um cara aqui e copiar o trabalho da gente", afirma Leal, que pesquisou a história durante cinco anos.

O norte-americano nega o plágio. "Essas acusações são claramente falsas e absurdas. Meu livro é baseado em anos de minha própria pesquisa e em minha própria viagem à Amazônia em 2005", afirmou Grann, em e-mail à Folha.

Hermes Leal, 49, lançou seu "O Enigma do Coronel Fawcett: O Verdadeiro Indiana Jones" em 1996, pela Geração Editorial, teve três reimpressões no país e uma edição publicada no Japão em 1999.



O norte-americano David Grann, 42, lançou em fevereiro "The Lost City of Z - A Tale of Deadly Obsession in the Amazon" (a cidade perdida de Z - uma história de obsessão mortal na Amazônia).

O livro está em sexto lugar entre os mais vendidos na lista do jornal "The New York Times" e foi comprado para virar filme por Brad Pitt. A Companhia das Letras vai lançá-lo no Brasil em setembro, com a possível presença do autor.

Antes do livro, Grann havia escrito uma reportagem sobre Fawcett para a revista "New Yorker", em 2005, ocasião em que visitou o Brasil e entrevistou pessoas, inclusive Leal. "Ele me entrevistou uma tarde em São Paulo. Depois, por e-mail, começou a pedir telefones dos meus entrevistados. Achei que não era justo e não passei os contatos", conta Leal.

Grann diz que sua pesquisa se baseia extensamente em material histórico, além de fontes inéditas. "Entrevistei muita gente, incluindo descendentes de Fawcett, arqueólogos e pessoas que conheci na minha viagem ao Brasil." O norte-americano cita o livro de Hermes Leal entre as mais de 200 fontes de sua bibliografia.

"Não sei se vou conseguir provar algo, mas não existe memória viva dessa história. Não há como Grann saber detalhes que escreveu, a não ser que tenha copiado", diz Leal, que chegou a ser aprisionado pelos índios que teriam matado Fawcett em sua expedição de 1996.

Para tanto, Leal contratou uma firma de advogados especializados em direitos autorais.

"Vamos traduzir o livro antes de tomar uma decisão de entrar ou não na Justiça. Mas as fontes de pesquisa não pertencem a um ou a outro. É preciso ver se há trechos coincidentes, e isso é subjetivo", diz Leo Wojdyslawski, seu advogado.