Lajedo do Pai Mateus, no estado da Paraíba, é um desses locais privilegiados pelo capricho da natureza. Ao longe, o que se vê é uma enorme base de granito onde grandes pedras redondas dão um aspecto único, como se tivessem sido colocadas ali pela mão do homem. Ou melhor, pela mão do homem e seus guindastes, pois, olhando de perto é que se percebe que são enormes, chegando a pesar até 45 toneladas.
Caprichosa, a natureza exibe suas esculturas de pedra. Na foto, pedra do Capacete
Foto: João Correia Filho
Localizado no município de Cabaceiras, o Lajedo do Pai Mateus faz parte de uma região conhecida como Cariri Paraibano, ou Cariri Velho, que durante muito tempo foi praticamente esquecida.
No entanto, já foi habitada há milhares de anos pelos índios cariris, que emprestaram seu nome ao lugar e deixaram fortes marcas na cultura e no jeito de ser do nordestino.
Formação
Na verdade, essa formação data de mais de 500 milhões de anos, no período pré-cambriano, em um processo que ainda ocorre lentamente. Eduardo Bagnoli, geólogo que há anos explora a região, explica que tudo começa no centro da terra: as rochas que se formam a 70 quilômetros de profundidade são empurradas para a superfície e começam a sofrer um processo de desgaste.
Fissuras naturais e a constante mudança de temperatura que há na região – pois os dias são muito quentes e as noite mais frias - dilata e contrai a rocha abruptamente, e faz com que rachem. Inicialmente são blocos retangulares ou quadrados que vão se desgastando num processo chamado de esfoliação esferoidal, ou seja, vão tomando as formas arredondadas que possuem hoje.
Saca de Lã
A estrutura incomum da Saca de Lã chama a atenção em meio ao sertão
Foto: João Correia Filho
Bem próximo dali, seguindo alguns poucos quilômetros por estradas de terra, está outro monumento natural que lembra as grandes construções erguidas pelo homem - talvez incas, maias...quem sabe egípcios.
A Saca de Lã recebe esse nome por lembrar sacos de algodão empilhados, segundo o imaginário do lugar. São pedras gigantescas, retangulares, que se encaixam perfeitamente e formam uma espécie de pirâmide de mais de 40 metros de altura. É difícil entender como aquilo se formou e como a natureza pôde ser tão audaciosa.
Segundo estudiosos é o mesmo processo das pedras redondas dos outros lajedos da região, como o do Pai Mateus e o do Bravo, mas aí o desgaste ocorreu apenas de forma retangular, devido às fissuras exatas das pedras. Seja qual for a explicação, o lugar impressiona.
Para quem visita a Saca de Lã, também faz parte da aventura a subida até a última pedra, ironicamente redonda. Ribamar de Faria, nosso guia, arrisca a subida e completa o monumento como se fora um grande totem.
Pinturas Rupestres
Eduardo Bagnoli conta que a primeira vez que esteve no Cariri Paraibano ouviu falar de alguns `letreiros` espalhados por toda região. Curioso, seguiu alguns moradores até as pedras mais próximas e descobriu que os `letreiros` eram nada mais nada menos do que belas pinturas rupestres. Começou a pesquisar, chamou amigos e estudiosos e foi percebendo que estava diante de um grande acervo iconográfico da humanidade.
A maioria dessas manifestações data de 10 a 12 mil anos e foram deixadas pelos antigos habitantes dali, os índios cariris. No sítio do Bravo e no Lajedo Manuel de Souza, município de Boa Vista, estão a maioria delas, as mais belas e visíveis da região. Pássaros, figuras humanas e desenhos geométricos são pintados geralmente nas grutas formadas pelas grandes pedras que se formam sobre os lajedos. Provavelmente locais onde permaneciam abrigados da chuva e, talvez, dos inimigos. Há também a possibilidade de serem locais de rituais mais complexos e essas grutas espécies de igrejas, mal comparando.
O método desenvolvido por Eduardo para encontrar `letreiros`, apesar de ser quase uma brincadeira, acaba convencendo: `Basta você olhar para um lugar bonito, ou que lembre uma moradia e procurar com cuidado. Pode ter certeza que vai encontrar pinturas rupestres`. Apesar de simplista, o método ilustra o volume de pinturas da região e quase sempre dá certo.
Lagoas guardam grande número de fósseis
Foto: João Correia Filho
É também no Sítio do Bravo que se formaram pequenas lagoas, extremamente ricas em restos ósseos de grandes mamíferos do período pleistoceno, que começou a se formar a 1 milhão de anos. Em meio aos grandes lajedos, os lagos certamente serviram para saciar a sede dos grandes animais pré-históricos, como o tigre-dente-de-sabre e a preguiça gigante.
Provavelmente o homem aproveitava-se da situação para caçá-los ali mesmo, onde estavam vulneráveis e seus restos permaneciam no local. Alguns objetos encontrados ali, como pedras quebradas em forma de faca, são representativos para entendermos um pouco mais sobre os hábitos dos nossos antepassados. Acredita-se que antes desses instrumentos o homem era mais caçado do que caçador. Com esses objetos, começaram a caçar e a ter reserva de carne, o que deu estabilidade e mais tempo a trabalhar com o intelecto.
Fonte: www.ecoviagem.uol.com.br