segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Há 45 milhões de anos, João Pessoa estava sob o mar

A Bacia do Rio do Peixe foi dividida nas sub-bacias Brejo das Freiras (ou Triunfo), Sousa e Pombal e possui uma área de 1.424 quilômetros quadrados. O pacote sedimentar da área tem cerca de dois mil metros e idade entre 144 e 125 milhões de anos, com formação composta por conglomerados, arenitos, folhelhos e rios entrelaçados. O paleontólogo José Augusto de Almeida citou ainda a existência de um registro geológico perto do município de Cajazeiras, distante 461 quilômetros de João Pessoa.
Nesse trecho, há vestígios de uma formação fóssil do período geológico Siluriano, que compreende entre 435 e 410 milhões de anos. Um remoto resquício da existência de mamíferos foi encontrado muito tempo depois, na faixa de 40 milhões de anos, porém indícios bem primitivos que passam bem longe da linha que resultou na formação do ser humano.
Na região de Cajazeiras, há indicação da presença de peixes e outros animais aquáticos. A área ainda está sendo estudada, e segundo o professor deve ser mais antiga do que a Bacia Sedimentar de Sousa. No entanto, as análises não foram concretizadas, pois o registro está limitado ao material colhido por meio de mapeamento aéreo. “Não é possível identificar de forma precisa quais são os pontos, mas se acredita que surgiram em um período anterior ao constatado na Bacia de Sousa”, explica.
Almeida destacou a Bacia Costeira como o grande descobrimento de vida pré-histórica na Paraíba. Pelos levantamentos, constatou-se que o mar ocupava onde hoje estão não apenas João Pessoa, mas também cidades vizinhas como Cabedelo, Lucena, Bayeux e Conde. As águas ocupavam uma faixa de aproximadamente 30 quilômetros, além do limite atual. O fato foi comprovado pelo surgimento de rochas que caracterizam a presença do mar, no espaço de tempo entre 70 milhões e 45 milhões de anos.
“Embaixo de João Pessoa estão conjuntos de rochas de 66 milhões de anos que estavam submersas em águas de até 60 metros de profundidade”, informou o professor. Muitos materiais se encontram em pedreiras nos bairros do Róger, Mandacaru e Ilha do Bispo. Nesses locais, existem fósseis marinhos, como de inúmeras espécies de moluscos (caranguejos, siris) que chegavam a três metros de diâmetro. Havia ainda tartarugas marinhas, crocodilos, mossasauros – enormes répteis marinhos – e pterossauros (grandes répteis voadores da família dos dinossauros).
Em alguns locais, a paisagem pode ser comparada à África nos dias de hoje com a presença de animais de espécies parecidas com rinocerontes, elefantes e tigres. Além da Bacia do Litoral, de Sousa e das recentes descobertas na região de Cajazeiras, outros municípios do Agreste, Curimataú, Cariri e Sertão contam com sítios com indícios da megafauna do Pleistoceno, que na escala geológica se encontra no período entre 1,8 milhão e 11,5 mil anos. “A Paraíba é um Estado riquíssimo em acervo paleontológico e arqueológico, mas deixa muito a desejar em termos de pesquisas. Os poderes públicos não fazem investimentos nessa área e os materiais ficam abandonados”, reclama.

Por: Jacqueline Santos
Fonte: Jornal da Paraiba

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